A Garganta da Serpente

Willian Delarte

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O Circo

O Circo está todo armado
e ainda falta pão

O espetáculo é denso,
frio,
superficial como um riso de elevador
em que a dor se eleva encruada
na superfície tensa de um botox
armado em formol,
armado na dor encruada,
encalacrada em forma de amor

O circo está pegando fogo
e os espectadores, os artistas,
o leão,
a trapezista - até a pipoca -
fingem dormir

Até a pipoca
encalacrada em seu sonho branco
dorme tensa,
simula eternidade para não mais pular,
saltar,
transformar-se em qualquer coisa diferente
de uma pipoca densa,
fria
e eternamente branca

Há um milhão de deuses sob a terra,
sob a superfície das peles,
em estado eterno de dicionário

e o Circo segue sua rotina,
entretendo peixes no aquário luminoso,
prometendo Vênus como prêmio,
entregando num laço
sempre
a Mulher-barbada -

com a mágica peculiar de criar palhaços,
sem a lágrima encruada,
só palhaços.


(Willian Delarte)


voltar última atualização: 08/02/2011
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