A Garganta da Serpente

William Silva

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Radioveracidade

Debruçado sobre a minha tristeza,
atrás da fumaça do meu cigarro,
bebendo um copo de vinho,
eu penso em muitas coisas,
em muitas coisas eu penso...

Penso na mocidade sem juventude,
no tiro certeiro e na bala perdida,
nos governantes genocidas,
na paz, somente um período entre duas guerras,
nas vantagens de se começar com "e4",
na minha mãe, que mora no interior,
no ser humano, cartesiano,
nas cores dos cabelos das mulheres,
nas pessoas solitárias que moram em apartamentos de duas janelas,
nas pinturas de Monet,
nas partituras de Bach,
na mangueira cortada, na sua copa fechada e na sombra que ela dava,
na comida sintética, na estética do silicone,
no pane lucrando,
na abstração de quem dorme em coletivos...

Ah, mas que Diabo!
Se este espelho fosse quebrado
e o cara que vejo dentro dele saísse
e seguisse a epístola de São Tiago,
talvez conseguisse congregar uma legião...

Algumas verdades são transurânicas,
mas podem ter uso terapêutico.


(William Silva)


voltar última atualização: 28/03/2005
7324 visitas desde 01/07/2005
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente