A Garganta da Serpente

Weliton Carvalho

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

POETA AO AR LIVRE

(a Raimundo Barroso)

Ao alcance da mão, todos os elementos de que precisa:
o ar, a água, o fogo e a terra.

A terra com toda a imensidão do verde em busca do infinito
                                                                                    [em azul.

E teu cavalo solto te invoca um poema, Barroso.
Os bois ruminam a tarde e tu os compreendes.

Tu, debaixo do sol, sabes o quanto um poema pode arder
e atingir o mais recôndito da alma.

Tuas mãos calejadas, irmão, lavam teus olhos
para vê a aurora te trazer a lida,
onde nasce a esperança dos que labutam com a terra
e sabem que ela os aguarda para a eternidade.

Nesse instante, tomas consciência de que és um poeta ao ar livre.
Não precisas te recolher para traduzir a vida. Ela está aí inteira:
e sopra e viceja entre varejeiras e canto de cigarras ao cair
                                                                                    [da noite.

na repetição dos grilos, dos sapos, que clamam pela vida, vida.

Ao meio-dia, olhas para o céu e nuvens te contemplam.
O boi rumina a solidão e o vento sopra devagar.
É esta a hora mais difícil.

Mas continuas. E no pelejar das horas com o sol,
a vida refaz o mistério do simples:

desde os pré-socráticos, Barroso, a poesia ao ar livre,
se faz ar, água, fogo e terra. E disso a vida sopra.


(Weliton Carvalho)


voltar última atualização: 21/06/2010
12071 visitas desde 01/07/2005
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente