POETA AO AR LIVRE
(a Raimundo Barroso)
Ao alcance da mão, todos os elementos de que precisa:
o ar, a água, o fogo e a terra.
A terra com toda a imensidão do verde em busca do infinito
[em
azul.
E teu cavalo solto te invoca um poema, Barroso.
Os bois ruminam a tarde e tu os compreendes.
Tu, debaixo do sol, sabes o quanto um poema pode arder
e atingir o mais recôndito da alma.
Tuas mãos calejadas, irmão, lavam teus olhos
para vê a aurora te trazer a lida,
onde nasce a esperança dos que labutam com a terra
e sabem que ela os aguarda para a eternidade.
Nesse instante, tomas consciência de que és um poeta ao ar livre.
Não precisas te recolher para traduzir a vida. Ela está aí
inteira:
e sopra e viceja entre varejeiras e canto de cigarras ao cair
[da
noite.
na repetição dos grilos, dos sapos, que clamam pela vida, vida.
Ao meio-dia, olhas para o céu e nuvens te contemplam.
O boi rumina a solidão e o vento sopra devagar.
É esta a hora mais difícil.
Mas continuas. E no pelejar das horas com o sol,
a vida refaz o mistério do simples:
desde os pré-socráticos, Barroso, a poesia ao ar livre,
se faz ar, água, fogo e terra. E disso a vida sopra.
(Weliton Carvalho)
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