Festival de Medo
Por quanto tempo ainda
Este fogo cruzado
Erguerá novas cruzes?
Por quanto tempo ainda
O homem será alvo
De abusos e obuses
Fazendo da vida um jogo
Usando a linguagem do fogo
Afogando os ideais
Pensamentos emudecidos
Sentimentos não sentidos
Corações que não batem mais
Os sonhos de infância,
As ilusões de criança
Já foram esquecidas
Agora somos mascates
Comprando a liberdade
E vendendo nossas vidas
Vendo crescer, que ironia
Tristeza nos semblantes
Dos pobres loucos que sobram
Vendo aumentar a romaria
Desses alvos errantes
Por quem os sinos dobram
Crescem os combates
Morrem os mascates
Não há razão de ser
Pois sempre entre os marcados
Há precoces fardados
Que nem chegaram a viver
E com cada corpo inerte
Com cada alma ausente
Morre um segredo
De gente que nunca pensou
Que essa bola gigante
Fosse um simples brinquedo
E com cada corpo inerte
Com cada alma ausente
Morre um segredo
De gente que nunca pensou
Que essa pequena vida
Fosse um festival de medo.
(Walter Sá Cabral)
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