Tenho medo
Eu, como uma espada sem fio.
Um casulo. Me enclausuro no útero da minha bainha , mais cedo
Sim, tenho muito medo.
Medo do mundo, medo do sonho
Medo, no fundo, do ente risonho
Medo profundo, do que há de vir
Medo da forca, o sangue que estanca
Medo da força, que aperta a garganta
Medo que o esforço não faça sorrir
Medo da Igreja, que vende o caminho
Medo que esteja rumando sozinho
Medo do muro que esconde o jardim
Medo do escuro, vivendo sem norte
Medo futuro, pensando na morte
Medo que seja o início do fim
Eu como um cego, numa noite de frio
Um errante, com saudade do ventre materno. Sim tenho muito medo
E penso, meu medo é eterno
(14/05/2005)
(Walter Sá Cabral)
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