Com desapreço, com desprezo, desconheço as regras
Da álgebra erótica; a lei da gravidade da pose e da posse;
O pêndulo pulsante do coração, que não uso; a régua
e o
Esquadro da expressão das emoções disfóricas; o
compasso
Dos impulsos do puro e perverso instinto da entrega do corpo:
O perímetro das sensações de risco e dos perigos desviantes
Dos cursos dos meus rios; a morfologia das lagunas, onde me
Deleito nos banhos de lama; os mapas geográficos do relevo dos
Sentimentos nobilíssimos; a raiz quadrada do amor e da morte,
Que, docemente, me enlaçam; a densidade do oxigénio
Nas respirações ofegantes do desejo e do ABRAÇO;
As equações das incógnitas existenciais, Torturantes; a
geometria
Descritiva dos estímulos e dos pulsos da terra; o cálculo aritmético
Da velocidade do pólen e do sémen dos ventos;
O gráfico dos graus das seivas marítimas, do álcool,
Dos ópios e das heroínas, que me exacerbam a mente;
A percentagem estatística da afectividade das pedras,
E da vacuidade do sonho e do logro; a tabuada simples
E pérfida da inveja e do ciúme; o resultado da multiplicação
Dos fracassos; o dividendo das fugas,
Das ausências, das deserções, do desperdício dos
fluidos
Genésicos resto zero da esperança; os logaritmos
Da temperatura do sangue e da estesia das artes,
Sejam a escultura, a poesia, a música, a fotografia ou a pintura.
Desprezo a banalíssima operação de dois e dois fazem quatro,
Porque não creio nem nos algarismos, nem nos números,
Nem na matemática "tout court". Creio tão só
na multiplicação
Da demência, do desvario, do delírio, do crime,
Do curso desviante do sexo, da frequência desistente do Eu,
Do êxtase de todas as drogas ilícitas, antídotos
Estéticos do absurdo do caos e do cronos, da bioquímica
Da vida e da morte, do património corrupto da genética.
Proclamo a loucura sem a mínima dose de lucidez,
A ignorância rasa do Todo, do Nada e do Ser, dos códigos
Das explosões feéricas do Universo.
Incito a que se faça o Livro Branco do branco
E se institua um prémio científico,
Para o obra mais exaustiva sobre a sanidade belíssima
E libérrima dos vulcões.
(in PARTOS DE PANDORA, Magno Edições, 2001)
(Violeta Teixeira)
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