AOS VINTE E UM ANOS
Desescurecer ouvidos
inverter os sinais
quebrar os fios imperceptíveis
(como os dias retidos entre parafusos)
convocar o torto e o reto
(objetos da mesma deformação)
gritar o piche nos muros
e o canhão sob os mesmos muros
(os muros continuam muros)
acender uma luz pequena que não chega
deter o movimento de rotação
e contar teus ossos
e numerar meus olhos
e tudo porque podes e quanto podes
abalar a palavra (a péssima repartição de tudo)
feito esta espuma, (nada), esta madrugada
entre homens de pé e girassóis às costas
todos fadados ao esquecimento
(assim como tantos beijos) –
e começas a perguntar até quando
e porquê e como
e novamente não há bastante metáforas.
Saudações, porta hostil, ao teu oriente eterno
– vacilante e aberto – apenas mais um ato falho
e fadado ao esquecimento
assim como tantos beijos, assim...
como vinte e um, apenas
vinte e um anos difíceis.
Amanhã, sob tua fresta
feridas serão feridas, mais nada.
Haverás de suportar o futuro – amanhã -–
e não terás vinte anos outra vez.
(Vinícius Paiva)
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