| O poeta esquecido
Nalgum ponto do cosmos infinitoNa vastidão em que o tempo consome-se
 Vagueia azul um poeta esquecido
 Pela solidão dos dias sem nome
 E despede-se da vida e da morteNa realidade, o sonho de todo
 Homem, e imagina flores ao norte,
 Astros chispando em seu ávido rosto
 Embebido, vinho tinto, afogadoNas águas de exóticos oceanos
 Esquece, de sua vida, o passado
 Num mundo de tamanho desengano
 Pelas manhãs e tardes sempre noitesInóspitas, de insano desabrigo
 Curva-se e chora, terrível açoite
 Costas de carne, coração mendigo
 Então voga entre nuvens borboletasA derreter o gelo com seu sopro
 Caminhando firme ao cais violeta
 Banhado em ondas do gélido agosto
 E como quem procura soluçãoNo desespero de acalmar a dor
 Prepara sua arma... intenso néon
 Do luar... estrangeiro sonhador
 E a delatar, do destino, as mazelasPara livrar a vida das algemas
 Escreve versos como uma aquarela
 E tinge em cores ricas seu poema
 Vultoso. E na volúpia ardenteQue faz cessar o desprazer dos dias
 Gris, percorre solitariamente
 Os caminhos de sua poesia
 Envolta em brumas até os confinsVermelhos que a imaginação obriga
 Inventa novos mundos em marfim
 Em busca da existência perdida
 E se esquecido, mas a alma repletaDe sons e sonhos, devaneios vivos
 Vagará azul, coração de poeta
 Para sempre no cosmos infinito.
 
 (Vinícius dos Santos) |