A Garganta da Serpente

Viegas Fernandes da Costa

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

NEGAÇÃO

nego o tempo e anseio pela vida
da janela observo a chuva que cai
inunda a cidade e lava a pátina recente

os fósseis do cotidiano residem apenas nas lembranças
nas memórias de velhos álbuns de fotografias
na pegada incrustada no pó que a chuva não alcança

nego a chuva em seu ato de covardia
da janela observo o dia que se cansa
da cidade, paradoxo moderno: apesar de cheia, está vazia

as ruas reluzem o cinza do betume
vomitado sobre as antigas pedras lisas
do velho calçamento que abrigou as fezes eqüinas

nego a Luz rebelde que se apaga
da janela observo as novas luzes que se acendem
dorme o sol, morrem as lamparinas, impera fálica a luz que o poste irradia

as calçadas abrigam as sombras andarilhas
mulheres que correm, mulheres que se postam sob os postes
e aguardam os errantes de vida vadia

nego a vida e anseio pelo tempo
da janela observo a noite que morre
inunda a cidade... e devolve a poesia!


(Viegas Fernandes da Costa)


voltar última atualização: 15/05/2007
8992 visitas desde 01/07/2005
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente