A Garganta da Serpente

Victor Faria

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Dia de Santo Rei

Tinha deixado de sentir
numa compulsão de erros
a celebração insípida de buscar
para toda a eternidade
uma companhia absoluta
não estimada na solidão.

é de uma natureza fria
que se indaga nas feições dos transeuntes de sorriso amarelo
e sombrinhas cinza-escura.

Os passos
não mais felizes do que firmes
declaram no exterior da multidão
um estereótipo interessante
que resume o mundo dos outros
como a saída estratégica rumo ao epicentro.

Fecha os olhos
para esquecer o clima glacia que lhe corta a garganta
e grita o peito.
é um dos efeitos da falta de remédios
e desconjuntura com o mundo.

No meio daquele delírio público e dominical
em que se comemora a homenagem à um novo santo,
passeia como um ancião noturno
sem preocupação de agrado
ou apreço.

é terrivelmente peculiar à nostalgia
na qual todos se divertem na praça central
gelada e colorida
com bandeirinhas de preço popular.

Os risos alheios o recobrem
num sentimento de gosto aprazível
e, apesar de repudiar as palavras
e comentários dos subalternos da sociedade,
começa a freqüentar as tardes dominicais
na Praça de Santo Evidente

que, de todo o mal,
não são tão frias.


(Victor Faria)


voltar última atualização: 01/04/2007
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