PROCURA
Tenho andado sem assunto
Não escrevo como deveria e gostaria
De escrever
E sentir
Prazer de poder riscar os verbos
Em versos que compusesse todo dia;
Todos os dias que se fizessem num repente
De se escrever poemas,
Ouvir músicas
Ainda que sem melodias,
Ainda que sem métricas,
Ainda que não inspirasse trovadores,
Mas que, sobretudo, se parecessem com poesias.
E por andar sem assunto
Procuro formas de expressão em todas as frestas
Dos meus muros interiores
E as procuro pelas paredes que me cercam
Pelas cercas que me emparedam ao vivo
E a cores
Pelas águas dos rios que teimam em não desaguar
Em mim,
Que teimam em não fertilizar o momento da criação
Sentida e querida, mas não enxergada,
Sequer imaginada, por essas frias teias
Que me enredam
A vida.
Não tenho sequer um assunto
Mas uma coisa observei
E captei:
Um leve movimento, minúsculo, bem pequeno;
Apenas a essência do movimento
De ir e vir dentro desse cansaço de procurar
Espaço,
Mínimo que seja, nessa frágil teia
Dessa frágil vida
Que se move tão pouco
Que tão pouco dura.
Que não é encontro
Que não é desejo
Que não é loucura
Que não é anseio
De se perceber
Que esses movimentos
Não são vida,
Mas procura.
(Vicente Siqueira)
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