A Garganta da Serpente

Vicente Siqueira

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UM RARO PRAZER.

Prazeres imediatos.
Anéis esfumaçados.
Impressões de tantas histórias tão iguais
a tantas histórias
vertidas
Pelas mesmas igualdades de desespero.
Se tem cama é leito.
Leito às vezes é morte
em que se deita de consciência pesada pelo pesar do suicídio
Consciente/inconsciente.
Vê-se, por ali,
passando todos os vagões do enorme trem
que é o passado de desnecessário risco incontido.
Risco do câncer.
Esses cânceres todos a nos dilacerar
uma civilização
consciente de seus males tabacais.
Esses enfisemas a carcomerem
todos os pulmões
que se todos os tivessem em abundancia
além de dois
de todos que as naturezas provocam em suas anatomias.

Cabeças de cérebros
de tanta falta dos cabelos que sequer importam a qualidade,
a cor, a textura.
Magreza esquelética de todos os corpos a se passarem por
físicos reparos e
se imiscuírem pelos conceitos da Química em banhos de quimioterapia.
Hora de repensar conceitos
ao se perceber o tocar do sino
a clamar a ida e saída para o nada eterno;
que aí não se vê fumaças desses tantos cilindros brancos,
cor do sepulcro.

O que chora é a imagem que choca.
O que choca é a imagem que chora.
Peles e tons
de peles
ocres e ressequidas
de ressecamento mumificado
e prematuro.

Múmia redescoberta pelo vício do fumo, do alcatrão,
dessas nicotinas que aparvalham e não se deixam enganar.
Fumo em lânguidas baforadas aos dedos e unhas que exalam
O mal cheiro de se sentirem cheiradas e procuradas
pelas indústrias que vertem rios
de dinheiro
na cobertura das propagandas e impostos,
insuficientes, porém,
para cobrirem o prejuízo da morte.

O que choca é a certeza da ciência.
O que choca é não se acreditar na ciência.
Todas as ciências.
O que choca é sentir-se ciente
E morrer sem propósito.

(2004)


(Vicente Siqueira)


voltar última atualização: 03/03/2005
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