DEUS É MULHER
Blasfêmia é não te amar, Dina!
Tua gula, nua, inspira,
tua resistência me impele.
Eis meu fuzil: toma-o!
Teu ventre é meu alvo,
tua língua o meu torpedo.
Descarrega-o!
Meu corpo é tua labareda: por fora o verde de nossa idade,
Por dentro, a cor da luxúria e da liberdade que explode tudo,
profana a noite escura que hoje impera e a catedral gótica que
confundo com tuas coxas.
Bebo a avermelhada fugacidade do tempo e de tua saliva
Teu gozo afirma: Deus existe!
Efêmero e sutil como nós,
forte e delicado como tu.
Talvez mulher e por isso complacente.
O orgasmo é Deus,
como a lama, esvai-se em seu usufruto.
E eu,em ti compenso tudo, o terror e a dúvida.
Avante cavaleiros!
Contra os fuzis, contra o terror.
Pela rosa que desabrocha e se transforma.
Pelo azul do possível.
Pelo poder sensual de nossa lira que cospe versos e rosas.
A possibilidade é Deus e Deus é possível.
(2007)
(Vicente Cariri)
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