SAUDADE
Até o fim do ano
tudo ficou cinza:
a cidade, o calendário.
Quebrou o piano,
e o violino
foi para dentro do armário.
O cheiro bom ficou azedo
dentro do forno:
o bolo queimou.
A criança ficou com medo
do palhaço,
que de tristeza nem se pintou.
Não dá mais pra ver as margaridas:
cercaram o jardim
com um grande e indevassável muro.
E as borboletas, distraídas,
foram todas embora.
Para elas, ficou escuro.
E cedo anda escurecendo de verdade,
mal o sol se põe
e já é noite alta.
As luzes das ruas da cidade
não clareiam:
é outra a luz que faz falta.
Mas para você, nada aconteceu...
Você foi e acha
Que volta e será tudo igual!
Não, meu amor, anoiteceu...
O mar não é o mesmo
Sem a espuma que lhe dá o sal.
É a sua, a da sua alegria
a luminosidade
que como cega vou buscando.
É por você (eu já sabia)
que a minha saudade
anda como louca esperando.
(Vany)
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