Refazendo
a ausência do soco
reforça o punho,
a falta do chicote
atiça o domador,
a despensa vazia
aguça a língua,
a supressão da palavra
aviva o discurso,
a imprevisão do certo
devolve o inexorável,
a abstração do corpo
prepara o repartir,
a descoloração da rosa
reintegra a paisagem,
a andança no charco
redescobre a terra firme,
a pororoca do medo
desperta a coragem,
a recusa da garrafa
retorna o vinho,
a cortada do caule
reforça a raiz,
a supressão do canto
reinventa o verso,
a despedida do vôo
refaz o arremesso,
a solidão aberta
reescreve o amor.
(Ulisses Tavares)
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