Ama da madrugada
Menina mulher,
Com os olhos da noite e corpo do sol,
Seu sorriso maroto é de quem espera por algo mais,
Se esse mais, não mais me pertence, se agora não sou mais esse
mais,
Quem serei pro mais de amanhecer?
Se vossos olhos, ó querida, não querem mais os meus,
O que será de mim? Se por tanto vos olhar e vos beijar,
Minha rica e mesquinha imaginação não deixa de vos desejar.
Quando vos possuo na imaginação, mil coisas me deixam de acontecer,
E quando espero amanhecer, não sei se voltas no outro dia,
A malandragem de menina moderna, não me engana se tardia,
E, em volto de vosso corpo pálido, uma toalha,
Vermelha como a Rosa que segura por entre os dedos, frios e brancos como
As pupilas de vossos olhos, que por esta hora se dilatam sem motivos,
Os traços destes olhos são como os de um gato que brilha na noite,
E se contorce como se estivesse no cio,
E por motivos de desvio, meus olhos percebem os vossos em meio à neblina
Que cobre a vossa noite, após a urgia de ontem,
Nem mesmo vossas unhas escuras escondem o borro de vossos olhos,
E somente as lágrimas de arrependimento é que limpam a vossa face
obscura e
Quando vossos olhos cansam de chorar pelas consternações antigas
e presentes,
É que minhas palavras vos acolhem, e sem ver-vos pessoalmente,
Controlo minha mente, para que seja tua confidente,
Não vos quero como mulher, porque vós sois uma dama,
E espero minha musa, por ser musa não ser ama.
(Tiago Souza)
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