A Garganta da Serpente

Succubus

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Vivo

Tenho fome... mas essa fome que tenho, ah... me causa ânsia..
Ânsia de vômito... de vomitar todo o meu âmago....
E o gosto ferroso de sangue na boca que me acalma
Traz agonia e dolorosas lembranças à alma
Mas ao menos me cura essa ânsia...
Se essa ânsia se curasse com um abraço,
seria eu pobre miserável mulher,
pois no seio da minha família faço
figura negra e de mal agouro, detestam-me...
... quando eu só os amo... não me abraçam...
... não vêm essas lágrimas que me queimam a face...
Achas tu que mereço?
Pois bem - mereço sim.
E que te importas com isto?
Só estou vivendo a dor com a qual convivo há décadas... séculos... eras...
Se tenho consolo condenam-me...
... mas condenam-me com razão... pois não mereço isso?
... mas se amo... não amo mais... desconheço...
... condeno-me por razões inexatas, e por morais que não sigo...
Pergunto a mim mesma, e me perco...
Escrevo o que penso e me escondo...
Vivo? Eu? Vivo? Morro... mato... assassina...
Assassina minha, assassina tua, ... mas NÃO SOU TUA!
Não sou tua... jamais serei tua!
Como poderia?
O que mais queria era... ... ... ... ...
Não digo, não admito, não permito-me pensar nisto!
Deixar-me levar? Ah sim... deixar-me levar a algum lugar...
... em que os cinco sentidos não existam, ou ao menos não... deixa-me ouvir...
Ou não...
Deixe-me ouvir o canto noturno ... do vento, do mar, das ondas, do luar...
Deixe-me ver... sentir, chorar...
Mas não agora, não, agora não... agora eu inexisto.
Inexisto a partir do momento que te recolhas ao teu leito, e eu ao meu
Pois antes disso eu estou viva e brilhando para que tenhas uma guia...
... para que não estejais só...
... para que possamos...
... para que vivo?


(Succubus)


voltar última atualização: 11/08/2005
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