AntropofagiaTenho fome. Dói saber que sou faminto. Queria te comer, tê-la nua e indefesa em uma enorme bandeja de prata. Devorar cada parte tua com um prazer primitivo que só nós, pagãos inocentes, conhecemos. Tenho fome, queria comê-la, lambê-la antes de morder. Estaria saciado ao retê-la dentro de mim, circulando em minhas veias, nutrindo meu coração com um lirismo que só nós, ciganos errantes, sabemos. Tenho fome, queria possuí-la sedenta para ser devorada. Sangue pulsando, órbitas dilatas, mamilos rijos. Deleite que só nós, deuses decadentes, ousamos provar. Que parte me causaria mais prazer? As partes tenras: nádegas, seios, língua? As partes molhadas: olhos, boca, genitália? Quem sabe não seriam os músculos, os tendões... Teus olhos grandes sobre mim. Teus grandes lábios carnudos, teus grandes lábios carmins. Teus grandes olhos de presa abatida, o antegozo da dor, prelúdio da mordida. Tenho fome, queria derramar-me. Queria estar dentro de ti. (Stéphen Dédalus) |