A Garganta da Serpente

Solange Galeano

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

APRENDIZES

(agradecimentos a uma amiga muito querida e não convencional: pela ajuda, inspiração, carinho e cuidados...)

Talvez, em algum momento
Tenhamos errado...
Em algum espaço
Fizemos sofrer os que nos alentavam;
Afogamo-nos num mar de obsessão.
Estávamos tão perdidos em nós mesmos
E tão absortos com o que sentíamos
Que deixamos para trás tudo
O que não era o "eu".
No afã de "nos" vivermos,
Fomos orgulhosos em demasia,
Sofremos e fizemos chorar,
Vivemos e plantamos mágoas.
De cúmplices que fomos,
Acabamos por nos destruir.
Não, jamais te abandonei!
Você se perdeu entre os planos
E não ouviu quando chamei;
Não me seguiu quando te fui buscar...
Viajei, procurando-te pelos espaços,
Na certeza de, em algum momento,
Te fazer voltar.
As estradas eram íngremes e escuras,
Os lugares ermos e sombrios
E as convenções pesavam-me às costas;
No entanto, persisti.
Com a ajuda de amigos
- que nunca nos abandonam
e nos inspiram com amor fraternal e paz -
te encontrei inconsolado.
O reconhecimento foi difícil,
A aceitação precisou perseverança.
Por fim, concordaste em ser amparado...
Hoje estamos aqui, mais uma vez;
Meu tempo precedeu o teu,
Um carinho de Deus
Para dificultar o erro.
Já não te recordas de mim;
Tens apenas a sensação de bem-estar e confiança.
Nos fizeram encontrar neste caminho
que combinamos trilhar sozinhos,
Para resgatarmos o que deixamos lá atrás...
Encontrei-te a fim de que, por um curto espaço de tempo,
Eu tentasse te orientar, sem forçar tua natureza.
Refaço-me ainda do susto desse inesperado encontro
Que me despertou a alma
E fez aflorar a inconsciência...
Luto contra o medo e a dor da saudade que me parte ao meio
Quando em mim pões teus olhos,
Num jeito tão conhecido...
Flashes da nossa história estão presentes,
Quer sonhando ou em vigília,
Lembrando-me do vínculo por nós cultivado.
Vencer-nos aqui será um de nossos desafios,
Acertados num pacto divino.
Não magoar e amar-te como se deve amar, será o meu!
O teu será o de unir teus eus sem egoísmo
E aos outros não fazer sofrer,
Resgatando cada título contraído.
Nossas vidas são os irmãos de jornada,
Amadas almas pelas quais passamos um dia.
Nosso encontro aqui é curto e está quase findo.
Haveremos de nos separar mais uma vez!
Mas a distância nunca desatará nosso laço.
Sentiremos o vazio das ausências,
Aprendendo o valor da companhia,
Da solidariedade, da compreensão, da paciência,
Do sentimento sem pretensões.
O tempo será sempre o teu aliado
E deves agradecer a Deus por todas as oportunidades
E parcerias que tiveres.
Ao tomar minha parte na estrada
Que bifurca logo à frente,
Deixar-te-ei caminhos e certezas
Que deverás buscar dentro de ti
Quando as dúvidas chegarem;
Deixar-te-ei, também, a devoção do meu eterno carinho
E os meus melhores pensamentos...
Quando chegar a hora,
Saberás o que em verdade fomos
E o porquê de vermos passar a vida
Em busca do que nunca aqui encontraríamos.
Escolhemos o que parecia justo.
Acordamos no que nos faria evoluir.
E, vencida esta etapa,
Terás aprendido a lição maior:
Amor incondicional e altruísta
- tesouro que levarás pela eternidade.
Não sei o que abriga a tua consciência;
Até onde conheces a parte da verdade, não me é revelado.
Sinto apenas vir de ti um confuso sentimento
Que se instala quando, por vezes,
Me encontras e és tomado repentinamente
por sensações que não consegues explicar,
Que te impelem magneticamente,
Atraindo-nos como se fôssemos imãs,
Tentas ocultar de mim, como se pudesses!
Dissimulas, espalhas aos companheiros
Teus motivos racionais e mundanos
Como que por defesa.
Nesse momento, eu silencio,
Consentindo, aparentemente, o que pregas...
Sabe-se que o silêncio fala por mil palavras...
O meu te diz muito mais que isso!
Não quero que te sintas mal,
Não recrimines ou julgues, nem te afasta...
Crê simplesmente que Deus faz maravilhas
E o que tantas vezes sentes, e não sabes explicar,
Faz parte de tua essência ,
Não deste mundo, e contra ela não há armas ou disfarces.
Que fique em ti o que te é dito em segredo
Ou o que fazes entre quatro paredes,
Não preste juízo do que não conheces.
Seja generoso com os demais e contigo mesmo.
Ame as pessoas e delas nada espere.
Aproveita o tempo desse nosso reencontro
Para aprender o que tenho a ensinar;
Ouvir o que tenho a dizer.
O meu testemunho é o próprio amor.
As verdades doem e as palavras machucam?
Não sei. Pode ser...
Mas as minhas sempre, sempre serão asas criadas
Para te fazer voar,
Para que te possas livrar dos pesos
Que te prendem e anulam;
Para que eu não mais te perca em outros planos.


(Solange Galeano)


voltar última atualização: 09/05/2004
6686 visitas desde 01/07/2005
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente