A Garganta da Serpente

Sofia Magalhães

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Suicídio

Morta!
Tão morta quanto o obsoleto.
Dilacerada efemericamente.

Pulsa o coração.
Falsa ilusão.
Não dela, o do irmão!

Porque ela!
Doce vítima da fatalidade.
Está morta!

Sobre joelhos descalçados
Sonhos derramados
Inconformados!

Sim!
Adeus disse, inconscientemente.
Ela - morta!

Murmurando baixinho
Está o pai, o vizinho.
Cada um - sozinho.

Ela se foi
E nada restou.
Nada!

Chora criança!
Lamente a desesperança
O fim daquela festança.

Porque ela partiu
Como um rouxinol na imensidade
E voltar, não poderá jamais!

O adeus finitamente
Carregará na mente.
Tudo por um simplesmente.

Ela se direcionou a porta
Confiando em seu amuleto.
Não se imaginava morta
Mas quis se juntar ao obsoleto
E em sua ingenuidade vertente
Conservou-se eternamente.

Pulsando ainda o coração
Recoberto de desmedida emoção
Ela - fez do finito imensidão
Lançando - se a imaginação
De uma mera realidade (farta ilusão)
Que lhe obstruiu a articulação.

Porque nela!
Não houvera serenidade
E ao mirar pela janela
Revivesceu sua identidade.
Porém, logo depois da porta
Se fez uma ovelha torta.

Através de atos impensados
E de olhos cansados
Anseios dilacerados
Intensamente martirizados
Neurônios desinformados
Foram de tristezas recauchutados.

Propensa a mirar o fim
Foi mais que lentamente
E junto ao um pé de alecrim
Seu ato aprofundou na mente.
Nem mesmo pensou em volta
Alimentando sua revolta.

Saída vaga, de mansinho.
Desistência daquele mundinho
Que parecia tão ruinzinho.
Onde não havia carinho
Onde tudo parecia estar sozinho
(só queria um segundinho).

Distante como um velho boi
Que aos olhos não encarou
Porque faltavam palavras pro oi
E secretamente se atormentou.
Vagando com sua voz calada
Deixou a vida ser apartada.

Negando haver bonança
Desarticulou-se da esperança
Destruí sua aliança
Não quis viver sua vida mansa
Nem dançar mais a triste dança.
Só queria sair da balança.


Por fim, ela apenas sorriu
Entregando-se a severidade
Prova esta de quem existiu
Não crendo na serenidade.
E assim, para não viver mais
Foi embora sem olhar para trás.

Não sabemos o que cada um sente!
Se há algo convincente!
O que lhes passa pela mente
Se não os tratam cordialmente.
Só sabemos que há muita gente
Que morre por não se sentir gente.


(Sofia Magalhães)


voltar última atualização: 08/10/2007
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