A Garganta da Serpente

Soares Feitosa

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Uma canção distante

Guardo tuas coisas para uma viagem
                          (em que tempo?),

em que vagão viajaremos — e as janelas:
abertas pr'uma paisagem verde...!?

Guardo tuas coisas para uma viagem,
                          (em que modo?):

no modo presente,

no modo advérbio, passado —
passam, passam coisas,

que os meus dedos aos lábios,

de uma mão perfeitamente trêmula,
cantam uma canção distante:
                          silêncio.

Guardo tuas coisas para uma viagem,
                          (em que vontades?):

pois se me fugiram os cavalos meus,
arrebentados todos os trens,
mortos os condutores de todos os carros,
naufragadas todas as jangadas,

                e o mar,
                brutalmente mar,
                mesmo assim,
                as coisas tuas guardadas, fiel —
                (onde?):

navegar é possível.

(Salvador, tarde leve, 02.08.1996)


(Soares Feitosa)


voltar última atualização: 02/09/2010
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