A Garganta da Serpente

Soares Feitosa

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O Prisioneiro

Trouxeram-me a prisioneira ao interrogatório.

Recusei-me às perguntas porque as respostas
estavam ao passado. Sequer o futuro
se lhe indagou; que também recusou
perguntar, quando os carrascos lhe disseram:

                             — Pergunte o que quiser.

Ela apenas balbuciou:


                             — Eu sei.

Mentíamo-nos,
porque jamais nos víramos.

Decretei a prisão imediata de todos os carrascos.

Mantive a prisioneira sob algemas,
que ninguém é louco de manter
tesoiro tão rico ao léu;

          mas, prudência maior,
          soltei-lhe os braços e mudei as algemas
          aos meus próprios pulsos.

Ela —
os gestos diziam que me seriam
sob afagos.

Deixei:
apenas que os olhos, os cabelos úmidos:

                             — Os meus? Os dela?

          Era o chamamento.

(Fortaleza, noite, 11.12.1999)


(Soares Feitosa)


voltar última atualização: 02/09/2010
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