On line
Saberia eu indagar agora sobre tuas mãos?
Era
de noite:
gotejava
o inverno
e
a repressão dos desejos
percorria
nossas mãos como se nunca soubessem,
elas,
as mãos,
cada
qual de si
e
da outra.
Pois o que ensiná-las a mais, se as ensinamos pouco?
Porque
agora,
outra
vez de noite,
qwerty
é apenas a prosaica banda deste teclado
máquina,
só
máquina, só noite,
qwerty
bato com os dez,
melhor
com os da esquerda,
embora
destro, bato
letra
a letra qwerty;
mas saberia agora mesmo,
dígito a dígito,
sinal por sinal, todos
mesmo sem olhar, que não nos podíamos olhar,
os sinais, tactilmente tácteis
(assim mesmo, à antiga,
tácteis) e a penugem
e a voragem
[...]
como se fosse e era
a tua direita
contra a minha esquerda:
eu
saberia
do
amor que te falhei.
Noite!
(Salvador, madrugada alta, 28.12.1996)
(Soares Feitosa)
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