A Garganta da Serpente

Sérgio Santos da Silva

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Comigo

Hoje estou zero,
caco, metade, qualquer coisa, resto.
Estou com saudades de mim
porque me amo e me detesto.
Sou meu único-último amigo.

Quando você me deixou,
esqueceu de me deixar comigo.

Espelhos

Hoje acordei sóbrio e me vi
só, sobras, sombras, assombração.
Olhei por dentro das janelas,
lá estava meu cio, meu vício, meu silêncio.
Eu estava pó, pobre, podre, póstumo, postiço,
eu estava em vão.
Quando abri os olhos, não havia ninguém.
Nem minha mãe, nem minha amante.
Nem karma, nem arma, nem alma, nem calma,
nem calmante.

Eu estava são.

Avesso

Amanheci duo.
Olhei afetuosamente o meu avesso,
versão em versos invertidos,
vertidos no meu eu-ambíguo.

O meu avesso encarou-me
numa tarde enviesada.
Olhou-me por cima dos óculos,
como quem não vê nada.


(Sérgio Santos da Silva)


voltar última atualização: 10/05/2002
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