A Parede Caiada
I
O caminho para Damasco
Dura-me uma vida.
E eis que as escamas
Cobrem-me novamente os olhos;
II
Se ora olho adiante,
Novamente a névoa esgazeada,
Profundíssima, sem fundo,
Alva parede caiada.
Mas, se não lhe vejo além,
Sei que além dela não há nada.
Só uma parede caiada.
Cortina densa de fumaça
Eis-me deste lado,
E d'outro lado não há nada.
maciça, absoluta, gelada.
Desperto num susto,
Piso em falso,
Sumira-me a escada.
Tateio solto pelo espaço
E o vazio me estacara.
Se deste lado tenho pouco,
Do outro, uma parede caiada.
(18 de Janeiro de 2006)
(Sérgio Luís do Carmo)
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