O CANDELABRO
Três lumes tremeluziam, à escuridão,
Desolados entre as indistinguíveis paredes,
E o teto indefinivelmente profundo do casarão;
Cosmo profundamente intangível, vede,
Assim que cesse das luzes que pouco arderão
O curto alcance, que não se transcende.
Inda assim, embora certamente em vão,
Crendo-se inextinguíveis por sua jovem sede,
Irradiam com vigor o medíocre clarão;
Assim o candelabro, que mal estende
A si mesmo a própria iluminação,
Flutuava em trevas, a que tal luz pouco ofende.
Mas à primeira brisa suas chamas tremerão;
E eis que esta sobrevém, glacialmente,
E lhe extingue a primeira combustão.
Já agora vacilante, tateia impaciente
O negro tecido, com a débil mão
Do seu brilho já insuficiente.
Reveste-se de orgulho entretanto, e então
Proclama-se um sobrevivente,
Inundando-se de misticismo e superstição.
Mas eis que o vento, recrudescente,
Vem e lhe colhe, de roldão,
A segunda chama incandescente;
Avança sobre tudo um manto de carvão,
Em que dança a última centelha, desfalecente
A piscar como olhos em pranto na solidão.
O candelabro pois, já aqui descrente,
Deixou cair os braços de exaustão
E apagara-se a última vela por si só, lentamente.
(10 de dezembro de 2006)
(Sérgio Luís do Carmo)
|