A Garganta da Serpente

Sérgio Luís do Carmo

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O CANDELABRO

Três lumes tremeluziam, à escuridão,
Desolados entre as indistinguíveis paredes,
E o teto indefinivelmente profundo do casarão;

Cosmo profundamente intangível, vede,
Assim que cesse das luzes que pouco arderão
O curto alcance, que não se transcende.

Inda assim, embora certamente em vão,
Crendo-se inextinguíveis por sua jovem sede,
Irradiam com vigor o medíocre clarão;

Assim o candelabro, que mal estende
A si mesmo a própria iluminação,
Flutuava em trevas, a que tal luz pouco ofende.

Mas à primeira brisa suas chamas tremerão;
E eis que esta sobrevém, glacialmente,
E lhe extingue a primeira combustão.

Já agora vacilante, tateia impaciente
O negro tecido, com a débil mão
Do seu brilho já insuficiente.

Reveste-se de orgulho entretanto, e então
Proclama-se um sobrevivente,
Inundando-se de misticismo e superstição.

Mas eis que o vento, recrudescente,
Vem e lhe colhe, de roldão,
A segunda chama incandescente;

Avança sobre tudo um manto de carvão,
Em que dança a última centelha, desfalecente
A piscar como olhos em pranto na solidão.

O candelabro pois, já aqui descrente,
Deixou cair os braços de exaustão
E apagara-se a última vela por si só, lentamente.

(10 de dezembro de 2006)


(Sérgio Luís do Carmo)


voltar última atualização: 13/02/2007
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