A Garganta da Serpente

Friedrich von Schiller

Johann Christoph Friedrich von Schiller
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A canção do sino
Convoco vivos; choro mortos; amorteço raios.

Bem assentada no chão
está a fôrma de barro queimado.
Hoje o sino tem que ficar pronto.
Decididos artesãos põem mãos à obra.
Do rosto aquecido
deve escorrer o suor,
deve a obra louvar o Mestre,
pois a bênção vem do Alto.
Para a obra que nós preparamos a sério,
mais que convém uma palavra séria;
se boas palavras a acompanham,
então, o trabalho flui alegremente.
Assim, observemos agora com diligência
o que surge da fraca força,
pois o homem ruim deve ser desprezado,
aquele que nunca pensou sobre o que faz.
Isso é que enobrece o ser humano,
e para isto lhe é dada a consciência,
a fim de que sinta no fundo do coração
o que ele cria com suas mãos.
Toma a madeira do abeto vermelho,
e deixa-a secar o bastante,
a fim de que a dirigida chama
golpeie a boca do forno.
Derrete a liga de cobre,
ajunta-lhe o estanho,
afim de que o tenaz alimento do sino
flua corretamente.
O que em profunda cava da banqueta
a mão com ajuda da chama constrói
no alto da torre alojará o sino.
De lá testemunhará por nós.
Perdurará por muito tempo
e sensibilizará muitas pessoas;
e gemerá com os entristecidos,
em sintonia com o coro de orações.
O que profundamente ao filho da terra
o destino diverso traz,
a coroa de metal enfatiza
continuamente com sons edificantes.
Brancas bolhas vejo saltar, então!
As massas estão liquefeitas.
Misturam-se à cinza salgada,
isso melhora e apressa a fundição.
Também de espuma pura
deve ser a mistura,
para que o puríssimo metal
ressoe com puro e pleno tom.
Pois celebrando com som alegre
saúda a criança amada
que, em sua primeira caminhada,
começa em braços de ninar;
ainda descansa por algum tempo
o negro e alegre badalo;
as sutis ânsias de amor materno
guardam sua dourada manhã.
Os anos fogem como setas velozes.
Pela jovem apaixona-se com orgulho o rapaz,
atormenta-se pela vida afora,
peregrina pelo mundo com seu cajado.
Estranhamente, volta para a casa do Pai,
e soberbo, na mocidade brilhante,
como cria maravilhosa do céu,
com modéstia e timidez
enrubesce-se diante da jovem
a apertos uns tendões sem nome
Do coração do menino, ele vaga só,
de seus olhos caem lágrimas,
ele foge dos irmãos do bravio Reno.
Enrubescido segue seus rastros
e é saudado por eles,
busca a mais bela pelos corredores,
com quem ele seu amor adorna.
O! sutil desejo, doce esperança,
o primeiro amor dos tempos de ouro,
o olho vê o céu se abrir
para encantar o coração de felicidade.
Oh! Que fiquem verdes eternamente
os belos tempos do amor jovem!
Como os belos ofegos se douram!
Estes bastonetes eu afogo,
nós os vemos de modo transparente surgir,
é o tempo dos ferros.
Agora, companheiro, de novo!
Mostre-me a mistura
será que a liga do frágil
com o mole é bom sinal?
Pois onde aquele rigor com a leveza,
onde o forte se casa com o moderado,
existe um melodioso som.
Por isso, examina quem se liga ao eterno,
se seu coração acha corações!
A loucura é curta, o remorso é longo.
Delicadamente, no noivado
a jovem lança o buquê de grinalda,
quando os sonoros sinos da igreja
convidam para a brilhante festa.
Pena que na celebração mais bonita da vida
também termine a vida de maio;
com o cinto, com o véu,
rasga a bela ilusão.
A paixão foge!
O amor tem que ficar,
a flor se entristece,
a fruta tem que crescer.
O homem vai pela vida hostil afora
deve realizar e se esforçar
e plantar e criar,
adivinhar e vencer,
deve apostar e ousar,
a sorte procurar.
Então, para ele flui a infinita dádiva
locupleta-se dos mais primorosos
pertences, as áreas crescem, alonga-se a casa.
E, dentro, a modesta dona de casa prevalece,
a mãe das crianças,
e domina sabiamente no círculo doméstico,
ensina para as meninas e defende o menino,
e nunca param
as mãos trabalhadoras,
e aumenta o ganho
com criterioso senso.
E enche as gavetas fragrantes de tesouros,
e gira a linha sobre o fuso ronronante,
e coleciona no liso e limpo santuário
a linha neve de lã cintilante,
e une para o bem o brilho e o vislumbre,
e nunca descansa.
E o pai com olhar contente
da casa contempla o longe,
Gaba-se de sua florida sorte,
mira os troncos das árvores maiores
e as áreas cheias dos celeiros
e a dispensa, curvada de riquezas,
e o mover das ondas de grãos,
exalta-se com boca orgulhosa:
firme, como o fundo da terra, contra o azar,
sente-se poderoso com a pomposa casa!
Porém, com os poderes do destino
nenhuma ligação com o eterno será feita,
e a má sorte caminha depressa.
Bem, agora, a fundição pode começar,
formosamente franzida é a cinta.
Porém antes de deixa-la escorrer,
façamos uma devotada oração!
Descarrega-se a torneira!
Deus proteja a casa!
Incenso no arco de manivela
lance-o com ondas de fogo-marrom.
Benéfico é o poder do fogo,
se o homem o contém , conserva,
e o que ele faz, o que ele cria,
ele agradece à Graça Divina
pois, terrível é a força dos céus,
quando ela se aproxima,
ao longo dos rastros dos seus próprios passos
a livre filha da natureza.
Mágoas, se as deixou
crescendo sem resistência
pelas animadas ruelas
valsa o imenso fogo!
Porque os elementos odeiam
o que é feito pela mão humana.
Das nuvens escorre a bênção,
a chuva cai,
da nuvem, sem escolha,
estremece o raio!
Ouve seus lamentos do alto da torre?
Isso é tempestade!
Vermelho como sangue é o céu,
Não é dia de calor!
As ruas estão em alvoroço!
Fervuras de vapor!
Chamejando, sobe a coluna de fogo,
longa linha pela rua
estira-se com manivela,
cozinhando como garganta de forno
arde o ar, vigas estrondam,
postes caem, janelas se batem,
crianças choram, mães se desorientam,
animais gemem sob escombros,
todos correm, salvam, fogem,
a noite tem luz como em pleno dia,
nas mãos longa serra
para o desafio.
O balde voa, alto no arco
esguicham-se ondas de água.
Uivando vem a tempestade pelos ares,
procurando a chama que ruge.
Crepitando na árida fruta
desaba sobre as dispensas,
sobre os caibros árvores secas,
e como querem se amontoam
com o próprio peso da terra.
Lágrimas, em enorme fuga,
crescem no céu de
alturas gigantescas! Desesperado
o homem se rende ao Poder de Deus,
em vão, vê seu trabalho
e sua admiração destruir-se.
Vazia e em chamas está a cidade,
tempestades selvagens, cama áspera,
na tristeza uma janela cavando
mora o horror,
e do céu
Nuvens olham
soberanamente .
Um olhar sobre os destroços
de seus pertences ainda lança o homem.
Agarra-se alegremente ao cajado,
que a fúria do fogo dele também roubou,
um doce consolo com ele permaneceu,
ele conta os seus principais amores,
e vê! Não lhe falta nada de caro e principal.
Na Terra foi aceito,
felizmente, a fôrma está cheia,
Virá hoje, também, bela,
a que reembolsa diligência e arte?
Se a fundição falhasse?
Se a fôrma quebrasse?
Oh, talvez enquanto agouramos,
a desgraça já nos atingiu.
Na escuridão atirada a sagrada
Terra confiamos na ação das mãos,
confia o Semeador na sua semente.
E espera que ela se enraíze
para a bênção, depois do conselho do céu.
Sementes mais primorosas escondemos
nós que lamentamos no colo da terra
e esperamos que elas dos potes para jóias
floresçam sem perder a beleza.
Da catedral, pesado e ansioso,
o sino entoa fúnebre canto.
Sério, segue suas tristes batidas
o andarilho no último caminho.
Oh! A esposa é isso, a cara,
Oh! é a mãe leal,
que o negro príncipe das sombras
conduz longe dos braços do cônjuge,
das delicadas crianças do rebanho,
as que por ele florescente suportou,
as que no peito leal
viu crescer com prazer de mãe
- Oh! as delicadas faixas da casa
dissolvem-se sempre lá,
pois elas moram na região das sombras,
a que era a mãe da casa,
pois falta-lhe um reino leal
suas aflições não o acordam mais
Unem lugares órfãos
torna-a estranha, vazia de amor.
Até frio captura o próprio sino,
torna duro o trabalho glorioso,
como na folhagem brinca o pássaro,
gosta daquele amigável fazer.
Da estrela ondula a luz,
livre de todo o dever.
Ouve as batidas de vésperas,
homem livre sempre tem que labutar.
Vigoroso, busca com seus longos passos na brava
floresta o viandante a querida choupana.
Berrando, as ovelhas chegam à casa,
e acaricia a larga testa das vacas,
Rebanhos chegam mugindo
como de hábito ao celeiro.
Pesado serpentear dos carros,
grãos aos montões, cheio de cores,
no ambiente está a coroa,
e jovens ceifadores
voam para a dança.
Mercado e rua ficam mais quietas,
em volta da sociável chama
os moradores da casa se reúnem,
E o portão da cidade se fecha rangente.
No escuro esconde-se a Terra,
os seguros cidadãos não temem
a noite,
quando o Mal desperta horrivelmente,
pois o olho da Lei os observa.
Ordem sagrada, ricamente abençoada
filha do Céu que igualmente
une livre, leve e alegremente
os que construíram a cidade,
os que os do reino chamavam
de selvagens insociáveis,
entram nas cabanas dos homens,
acostumam-se a delicados modos
e a mais cara textura
da faixa, a direção da terra natal!
Mil mãos dedicadas se movem,
ajudam- se em corajosa união,
E em mudança ígnea
Todas as forças são consumidas.
A maioria se movimenta e a amizade
na liberdade é sagrada proteção.
Cada um alegra-se com seu lugar,
resiste ao maior desdém.
Trabalho é o ornamento do cidadão,
bênção é o preço de esforço,
recebe as honras do rei,
nos dignifica a dedicação das mãos.
Paz adorável,
Doce harmonia,
permanece a amizade nesta cidade!
Nunca poderia surgir
um dia de hordas da rude guerra
sobre este quieto vale,
onde o céu que o ocaso pinta
adoravelmente com suave vermelho
das aldeias, das cidades,
selvagem fogo terrivelmente brilha!
Agora perturba-me o edifício,
sua fachada foi completada,
de que coração e olhos desfrutam
da promissora construção..
Vibra martelo, vibra,
até o casaco salta,
como o sino deve subir,
a fôrma deve ser despedaçada.
Ao mestre cabe quebrar a fôrma
com sábia mão, no momento certo,
Sopros, porém, se em riachos de chama
o próprio minério ardendo se livra!
Furiosamente cega com os barulhos do trovão
dispersa-se a brava casa,
e como garganta do diabo aberta
cospe ruína acesa;
onde forças cruas prevalecem inúteis;
então, nenhuma formação pode moldar,
se as próprias pessoas moldam;
então, o bem-estar não pode prosperar.
Pena, se isto no colo das cidades
o fogo aceso ainda acumula;
o povo, quebrando suas cadeias,
para auto-ajuda terrivelmente agarra!
Então, puxa cordas do sino
a desordem, que ressoa uivando
e dedicando-se somente a sons de paz.
O lema dá o tom da força.
Liberdade e igualdade! Ouve-se ressoar,
o pacato cidadão alcança a defesa,
ruas se enchem, os corredores,
e bandos de falcões ao redor
transformam as mulheres em hienas
e fazem piada com horror,
ainda convulsa, com os dentes
da pantera, rasgam o coração do inimigo.
Nada mais é sagrado,
o devoto acaba com o medo de todas as gangues;
o Bem molda o lugar do Mal,
e todos os vícios prevalecem livremente.
É perigoso para despertar a luz,
O dente do tigre é pernicioso
porém, o mais terrível dos horrores
é o ser humano em delírio.
Pena deles, dos eternamente cegos
da tocha de luz que o céu empresta!
Ela não os ilumina, pode apenas iluminar
e cremar cidades e campos.
Alegria Deus me deu! Vê!
Como uma estrela dourada por fora, brilhante e lisa,
desnuda o núcleo do metal.
Do elmo até à coroa brinca como brilho de sol, também belo protetor de brasões,
louva a pintura experiente.
Entrem! Entrem! Todos os camaradas, serrem fileiras,
a fim de consagrarmos o sino e de o batizarmos,
Concórdia deve ser seu nome,
para a harmonia, do fundo do coração,
une a comunidade a amada comum.
E esta é daqui em diante sua missão,
para qual o Mestre a criou!
Do Alto para a baixa vida terrena
ela deve em célula de céu azul
a vizinhança do trovão pairar
e limitar no mundo de estrelas;
ser uma voz do Alto,
a partir de corpos celestes iluminar o rebanho,
cujo Criador louva ao vagar,
e conduz o adornado ano.
Só a coisas eternas e sérias
sua boca metálica se dedica,
e salta de hora em hora com isto
toca-lhe o tempo que oscila em vôo
ao destino ela empresta a língua;
insensível a si mesma, sem compaixão,
acompanha com sua energia
o jogo da vida cheio de mudança.
E como o som no ouvido desaparece,
seu poderoso tom ressoa,
para ensinar-lhes que não passa nada
que aconteça neste mundo. .
Agora, com a força da corda
oscila para mim da abóbada o sino
para que a riqueza do som
escale no ar até ao céu.
Puxe, puxe, levanta! Ele move-se, paira,
alegria desta cidade significa,
Paz é sua primeira mensagem.


(Friedrich von Schiller)


voltar última atualização: 01/11/2005
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