A Garganta da Serpente

Rubem Garcia

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Não atirem, rosas, no meu paço!!!
(quando todas as noites são a mesma)

Estou mais besta que passarinho velho,
Olhando as grades da gaiola,
Sem lembrar o vento...
Como o centroavante que perdeu o gol,
"Na cara do goleiro".
Deve ser porque não venci...
Logo naquilo que me é mais caro...
Como um menino de quinze anos me escondi,
Sabes muito, desde aquela idade,
Sufoquei o meu pecado,
Mais por culpa, não por vaidade...
Menos por auto-piedade... quem não tem perdão?
Mas resolvi despir bem mais que o corpo,
E desatar os nós da minha corda...
E me atirar de cabeça no destino,
Resolver estar caindo, ainda que em outra direção...
Em que lugar ficou a companheira...
Nunca escala ascendente,
Fiquei parado ou no degrau da escada?
Em qual pedaço, meu amor...
Parada...
Está marcada nossa deserção?
O verso sangra,
A vida continua...
De outros jeitos acontecem coisas...
Novas promessas, velha ilusão...
Não há espinhos... nem rosas no campo...
Eu marcho firme, passo endurecido,
Pensando um dia haver esquecido...
O preço que me custa à solidão!


(Rubem Garcia)


voltar última atualização: 19/01/2006
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