A Garganta da Serpente

Rubem Garcia

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

NEOTEOLOGIA ENCIMESMADA

Sentidos vagos
Espreitados a contragosto…
Partículas descobertas bem à tarde…
Antes tarde do que nunca…
Antes nessa vida que outra…
Antes um mundo, mesmo três…
Antes mesmo da história…
Antes de Roma,
Antes dos Cristos,
Tempos antes jamais vistos…
Se cultivava a humanidade…
No anoitecer, na chuva fina,
Outros ares anunciavam…
Que à Imagem e Semelhança se cunhavam,
De pó a pó um novo bicho…
Dentro da sopa de aminoácidos…
Almeja ter entre as espécies,
Status de protozoário…
Cavucando o chão,
Que nem parasita,
Consegue ser, o sibarita…
Não só obreiro, ou operário…
E integrar o numerário…
Com documento, número e firma.
Espremidos em enormes formigueiros,
Com estampas amarelas nas janelas,
Observam o correr cotidiano.
A vida correndo nas janelas…
Seu ego infla e já não faz chover…
Entreviste à luz entre suspiros,
E tenta subir aos Céus pulando muros…
Imerso no abismo que escava a teu redor…
seguro no gelo de suas paredes…
entoando preces…
preces…
preces…
preces…
preces…
preces…
preces…
preces…
preces…


(Rubem Garcia)


voltar última atualização: 19/01/2006
6224 visitas desde 19/01/2006
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente