A ALVA LINDALVA

Na praia deitada,
uma fada molhada,
molhada e bem alva,
o pecado, Lindalva.

Um mulato na água,
e Lindalva divaga,
e divaga o mulato,
bem tentado o gaiato.

Um mulato cachaço,
um cachaço sem tato,
valsa o seu falo,
um falo badalo.

A namorada mulata,
mulata e cavala,
na casa sem nada,
e do nada e sem fala,

da sacada repara,
num cara, o mulato!
E varada de raiva,
com raiva ela calça,

a calça e o braço,
e já sai no encalço,
com faca e no brado:
-Eu mato o safado!

Na calada da tarde,
não tarda, ela acha,
o mulato na água,
na água emborcado

o seu falo bem largo,
largado e gozado,
e brada o mulato:
-Mulata, não mata!

-Não mata esse amado!
Não faça a desgraça.
Essa magra sem raça?
Sem graça, lavada!

-Só tu minha amada,
amada mulata, afago,
me abraça bem largo,
mas larga essa faca...

A mulata danada,
danada e enfezada,
e a faca afiada,
mas a faca ela larga,

mas não larga da raiva,
e com raiva e de fato,
de braço e de salto,
dá tapa e mais tapa,

embolacha o mulato,
que cai como um trapo,
um trapo na água,
já quase afogado.

Sentada na praia,
na praia bem alva,
a delgada diaba,
repara nos tapas.

O malaco acabado,
acabado mais safo,
com cara de pau
e de pau ainda armado,

vai lá com Lindalva,
e já arde essa alva,
e se acha na vara,
e com tapas na cara.

Mulato e Lindalva,
se agarram, se salgam,
e bem salgam a tarde,
com risadas e alarde.

Bocarras chupadas,
chupadas as carnes,
gozadas as partes,
repartem o pecado.

A mulata coitada,
largada e sem cara,
e de cara abaixada,
se vai pra calçada,

descalça do mar,
e no bar, a ribalta,
na falta, a beldade,
do macho a saudade,

saudade que trata
na água que mata,
mas mata essa mágoa.
Oh cachaça malvada!

Com pesar abrigado,
no trago afogado,
afaga as garrafas,
sem tapas nem nada.

As garrafas descasca,
descasca essa tarde,
que tarda e não acaba,
e a mulata desaba,

e repassa o amado,
o mulato que afaga
e descasca essa alva,
bem alva e bem vaca,
essa vaca Lindalva.

(Rose Gusili)