PRETO e BRANCA
No percurso dos planos,
no que o preto
ao branco se opõe,
nos campos se compõem
em peles e bandeiras.
Preto e branca
e pardos épicos,
Pacaembu em brio,
Campeão do Brasil.
Espetáculo popular
de bandeiras rebeladas,
purgados e puros
sublimados na bola.
Apaixonados na batalha
em berros profusos,
não importam os pesares,
só a pelota e seus pares.
Preto e branca
e pardos perdidos,
sem mãe-pátria,
só pais párias.
Pueril esperança,
capricho do tempo
que entorpece o pobre
e seu apetite encobre.
Impúbere Brasil,
passos em descompasso,
Peter Pan pererê,
puberdade perene.
Preto e branco
e pardos benditos,
príncipes perfeitos
de hábeis pés pretos.
Spartacus Tupis,
libertados em campo,
apresando seus espíritos
em belos passes precisos.
Pênalti cobrado e pago!
Pula a arrebatada plebe
e brota o preso pranto,
apaziguando o desespero.
Preto e branca
e pardos expurgos,
perecem os pontapés
aos beijos e abraços.
Cobra impiedoso o porvir,
pois que pesa no peito
o rubro poente no campo,
a bola suspensa no tempo.
Sobraram absortos nos corpos,
como brisa parada,
os prazeres passados
da arquibancada despida.
Preto e branca
e pardos híbridos,
branca nobreza
e pretos presos
na podre pobreza,
injusto Brasil,
povo pueril,
apareças Brasil!
Em capa de papel
e espada de lápis
aprendas e apontes
pro peito, o respeito,
e teus passos rabisques.
Preto e branca bandeira,
pardo povo Brasil,
como buscas a bola brejeira
do belo futebol febril,
buscas teu tempo Brasil!
(Rose Gusili)
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