A Garganta da Serpente

Rosangela Aliberti

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SOBRE AS NUVENS

Corcéis caem por terra
quando a noite se aproxima
o oceano desarma os dedos
nos contornos rompendo silhuetas,
as ondas atravessam corpos ao ar livre
trajes colados soltam-se na dança das mãos
corações misturam-se libertando
sinos, perfumes ao som das guitarras
transmutando os golpes do vento,
derrubando as raízes além do fogo
o que agiganta um oceano? ondas mentais
concordâncias... discordâncias
discordâncias... concordâncias
se as cores dão sentido a veia
o oceano tinge o branco de azul e vermelho
sob o calor latejando pinceladas
misturam-se as tintas nos poros nômades
a mão frenética do dono toca o corpo
o pincel desce ao litoral
platonismo, reinventar frases, puro lirismo
(não sei)
qual é o lado obscuro dos jogos de amor
carícias, brincadeiras, provocações
mil sabores...
roda de beijos

o sol se apaga gradualmente
vestindo de noiva um novo horizonte
os olhos que perderam a conta das gotas derramadas
olhos encantados com o vôo das gaivotas
gritos rentes as rochas, na praia de sonhos...
a água aquece as rosas silvestres debruçadas
estoura o mar,
pétalas espalhadas brancas e vermelhas
na boca, os peixes provam a doçura no sal,
entre pedras, nas fendas estrelas do... mar
pétalas espalhadas brancas e vermelhas
aonde o azul do céu toca o limo e as algas
explorando projeções
desejos devoram o corpo de uma mulher
não é essa ou aquela, especificamente
(não sei ao certo quem é... quem é você mulher?).
Enquanto a luz do farol gira em torno da ilha
um coração artífice desenha um nome numa folha de papel
traços firmes bem definidos nesta estação
apesar de tentar esconder... os sonhos, bem como outros,
não compreende porque chora a falta de um nome
uma fada brilha junto a lua,
na ponta de uma espada prateada que aterroriza outros punhos
o artista calado derruba o muro
com a vontade absorvida entre boas lembranças
aproveitando o melhor da dança do amor
a cada mergulho no papel, um novo sussurro
até o ponto em que as asas esbarram na fantasia
reavivando venturas, adeus desventuras,
aventuras...
os lábios com fúria desejam tocar o céu
faces... ausentes de máscaras...
deixando transparecer sorrisos,
a cada mergulho mãos deslizam no oceano
abraços, anseios... sentimentos estranhos
uma lágrima rara entre outra derramada
por trás das metáforas, um rio reencontra o oceano
na tentativa de camuflar o oceano de paixões
cobrindo os (des)enganos, sepultando antigos amores
beija gentilmente a mão da lua
o homem pássaro
um cavaleiro penetrando no tempo
no mar a mulher,
a praia, o céu, o cavalo, a lua...
sobre as nuvens
a imensidão do oceano azulado

a mulher mergulha embriagando os contornos no oceano
abraçando as ondas, o mar, observando o cavaleiro chegar ao topo,
cabelos voam varrendo o céu
sem nenhum pudor,
sombras descansam os véus
deixando puras doses de amor ressurgir
com loucura crinas caem por terra.

(São Paulo, 26.XI.04)


(Rosangela Aliberti)


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