A Garganta da Serpente

Rosangela Aliberti

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DANÇA COM LOBOS

lá fora chove mil e uma gotas de chuva amor bem marcadas
resistindo fundo a dor o amor suspira em silêncio
lavando guias e calçadas águas passadas
um piano desprende notas musicais em um prédio
deslizando andares de (in)certezas... ondas trovejam
mistérios relampejam esperanças inundando alamedas
forçando rasgar os véus da lua que ressurgirá em um canto do céu
o amor incentiva a chegada de um novo amor
divinos momentos provocando redemoinhos na vida
pincelando os doze pontos de rubi do rei circular dos segundos
o tempo movimenta os ponteiros das lembranças dos filmes
demarcando os protagonistas na longa metragem que aos poucos reaparece
no lado mais doce e obscuro em cada anoitecer até o romper da aurora
c'est la vie lobos existentes dentro de cada um aonde fervilhão emoções
cada qual escreve com amargura ou ternura a rota de sua trilha sonora...
talvez cerrando os olhos por minutos se compreenda porque os lobos choram
inspirados na busca ardente na simples descoberta da falta
de uma determinada fruta quando não a temos nas mãos quanto mais longe está
é o maior desejo o sonho com aquela que no meio de tantas outras se destaca
aquela fruta que não passa de um órgão vegetal proveniente do ovário da flor
lobos tem o direito de chorar no topo das montanhas de farejar o prazer com carinho
ao se sentirem sozinhos explodindo a dor da falta da fêmea brilhantemente composta
a figura da mulher amiga a fada alada virgem feiticeira estrela demônio angelical
o lobo estando condenado para o resto da vida, a corresponder a lenda chora
procurando confluências cósmicas no preenchimento da companhia das poesias
numa voz fria e harmônica que impulsiona a insistente reformulação dentro de si a magia
mandando sinais de encanto que enxuguem o pranto suplicando aos deuses
um ponto final para que os lobos não chorem tanto nas noites de lua cheia
rasgando as vestes da solidão cor de prata fazendo brilhar no coração a paixão
soltam-se das avencas folhas traços de purpurinas violáceos matando as saudades
atravessando muros portas e janelas doloridas alcançando braços ouvidos e mãos
neste mundo bizarro desentravando o grito louco no topo quase surdo do mundo
clamando à toda alcatéia dos filhos dos filhos dos lobos de pares de meias brancas...
- Nosso alimento está na música navega entre as pautas, neste oceano
nos dedos dos homens e mulheres dando luz ao olhar entre os mais sensíveis
fazendo com que sorrisos desabrochem dos lábios dia e noite
respeitam toda espécie de sentimentos dos mais incomuns aos similares...
homens amigos dos lobos tornam os lobos amigos do homem...
não se incomodando com a cor dos uniformes as bandeiras o tom da pele
idiomas raros desenham letras com imaginação para juntar os pares
esperando por toques de instantes de verdadeiro afeto
para proteger uma ou outra ilha... nestas horas bocas alcançam limites infinitos
corações personagens se reviram de dentro dos túmulos das telas saindo dos livros
chove realmente mais de mil faces de querubins explodindo do imaginário ao real
a brisa beijará as flores molhadas de chuva afagando a eterna busca do ser amado
se faz necessário crer nas visitas inesperadas sem cerimônia da roda do destino
para recolher idéias abrindo comunicações entre o lobo e os outros seres na terra

(São Paulo, 01.XII.04)


(Rosangela Aliberti)


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