A Garganta da Serpente

Rosangela Aliberti

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BEIJOS DE AMOR

No velho doce abrigo, dois lampiões... enfeites
nas paredes insones da sala se pode acompanhar
a língua do vento provocadora que lateja bêbada
roçando nas folhagens em ritmos diversos,
agitando galhos silvestres entre as sombras
brincando configura redemoinhos agitando os gravetos...
o formato das nuvens grávidas se retransforma
nas colisões do tempo novos tons pulsam no céu...
novas perspectivas brilham no conjunto
entre os clarões prateados dos relâmpagos...
um trovão ribomba aqui, outro insistentemente
responde após alguns segundos acolá...
a chuva produz cânticos no deslizar delicado
nos acordes sobre o verde e as corolas das flores
encharcam-se tanto quanto as calhas
empapuçadas pela água que escorre lavando a honra
num movimento aparentemente tonificante das almas
comum da chuva que produz ritmos inexplicáveis,
descontínuos ora tendendo ao brando
ora as gotas grossas imprimem força na cadência
dividindo o espaço com os sonhos dos enamorados,
cada qual no fundo dono de sua própria coreografia
em torno de canções todos vivem seus Pout-Pourris...

Um par de pernas descruzadas desperta em sobressalto
depois do soar surdo do entrechoque das nuvens
dirigindo-se até uma das janelas e a luz esbranquiçada
circunspecção segura pelo poste produz um matiz que destoa
nos dias secos quando as lâmpadas se vêem repletas de
hóspedes insetos enfeitiçados enrodilhados pelas cores
do ar no final de mais um verão, nas madrugadas...
O passado se mistura com o presente aos pingos de chuva
diminuem diminuindo d i m i n u t o s tal qual
o evaporar da transpiração no vibrar violento e
em seguida ameno confrontando-se com a batida da pulsação
na terra...
A terra tremeu ligeiramente! (segurando a respiração)
o som telúrico dos corpos dos amantes depois de uma noite
de sexo com amor... será que as pessoas percebem
a semelhança das amostras gratuitas dos abraços da natureza...?
Será que todos lêem o que está por detrás
...das entrelinhas vivas de Pablo Neruda?
reconhecem as metáforas que saltitam como peixes
nas páginas dos livros, rimando sem rima com as pétalas...
os sinos, as algas, os hinos... Beijos de amor.
Por que a maioria das almas poéticas de todas as Eras
exaltam o poder do toque das rosas... nos entulhos aos jardins?

A chuva cessou às três da manhã a calmaria é transparente
dando vida ao canto das cigarras... nuvens se reajeitam...
a lâmpada recebe novamente os convidados aéreos...
companheiros fortuitos viajantes na via sacra na vigília
pela madrugada afora:
' há pessoas que não desistem de´caçar´príncipes
entre lamparinas ou com lanternas chinesas nas mãos...
Não sei por que não dão valor ao coaxar dos sapos?
Sinônimo real de raridade no mundo urbano...
nada mais encantador do que um belo sapo
visitando nos tempos modernos, a casa de uma ´fada´.
Um conto de fada moderno... Beijos de amor...

(São Paulo, 04.IV.05)


(Rosangela Aliberti)


voltar última atualização: 19/07/2007
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