A Garganta da Serpente

Rosa Kapila

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

IMPULSOS INSUPORTÁVEIS

"Se um autor escrevesse apenas para a sua época,
eu teria que quebrar minha caneta e jogá-la fora."
(Victo Hugo)

Nenhuma aula de literatura
Vai dar conta de todas as pessoas dentro de nós.
Fui refugiar-me em Santa Teresa
Nessa boca-de-noite canhestra.
Parece que há mil anos morei por aqui.
Quando sinto impulsos insuportáveis
/este é meu caminho.
Vi numa roda de malhação de judas
O bisneto de Augusto dos Anjos e no bonde
/a bisneta de Cora Coralina
só me falta dar de cara com os sobrinhos de Bandeira.
Num encontro ancestral estaria Paraíba/ Pernambuco
/ e Goiás.
Paulo dos Anjos vem me beijar cheio de farinha de trigo...
Ele é o ator principal da peça que se desenrola
No Largo dos Guimarães.
Ai minha Santa Teresa saudades tenho de ti.
Desço a Ladeira pela André Cavalcante,
/ rua em que morou Carmen Miranda.
Com um pedaço de pau afugento os cachorros...
Só então me recordo do sonho... uma onça roubava os
/cigarros de Ícaro e fumava tirando onda
/com minha cara.
Com "a neura" do sonho voltei para as escadarias
/e subi no bonde que apontava.
Hoje não é meu dia
Eu detesto Hoje.
Eu quero matar/sangrar/retalhar o dia de Hoje.
Hoje eu sou Anne Sexton naquele poema-pesadelo
"A mulher do fazendeiro":
"(...) e ela o desejava aleijado ou poeta, ou ainda
/mais solitário,ou, às vezes, melhor, meu amado morto."


(Rosa Kapila)


voltar última atualização: 19/10/2009
6373 visitas desde 19/10/2009
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente