EXÉRCITO DOS MORTOS
A Ressurreição
Da terra úmida e dos túmulos
ouvem-se vozes
vêem-se mãos
do cemitério uma névoa densa
invade a cidade
adentra o casarão.
O portão de ferro é aberto
da escuridão surgem os mortos
com suas vestes carcomidas
pelos séculos de clausura e esquecimento
todos juntos, passos lentos
retornam para suas casas
alguns querendo matar a saudade
outros querendo vingança
poucos sem ter o que fazer.
O Ataque
Na periferia da cidade
já é possível ouvir a marcha
mas ninguém sabe do que se trata.
Nos bairros ao redor do cemitério
a carnificina está consumada
pois os mortos vingadores anteciparam-se
não cuidando velhos, crianças e animais.
Aqueles que buscavam rever os seus
arrependeram-se de terem abandonado a eternidade
e voltaram mais cedo para suas tumbas
mortos de tristeza
por saberem que foram chamados apenas
para cometerem tamanha atrocidade.
A Fuga
O vento carrega o fedor
e antes da chegada dos malditos
pessoas de estômago fraco
caem desacordadas
pois não conseguiram prender a respiração.
Os mais fortes correram desesperadamente
em direção ao campo
sem saber
que o campo também entregou seus mortos
e pra qualquer lugar que se possa correr
a morte já chegou.
A Fé
Pastores e crentes ajoelharam-se no meio das ruas
orando aos gritos
esperando que Deus dê ouvidos
aos seu pedidos de perdão
mas os céus não se abriram
e o exército dos mortos ignorou a multidão em oração
e no espaço de uma noite
varreram toda uma cidade
não deixando portas trancadas
não deixando pedra sobre pedra.
O Final
Os primeiros raios do sol aparecem no horizonte
cada soldado retorna a sua tumba
o pelotão noturno têm seu descanso
é chegada a hora dos vingadores do dia
(esses são as vítimas do primeiro ataque)
todos a postos
marchando rumo a outra cidade
acompanhados pela névoa densa de outrora
não cansarão
não dormirão
enquanto a vingança não estiver terminada
enquanto a terra não for vingada
de seus milênios de devastação.
(Rody Cáceres)
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