Distanásia
- É você, Marquês de Sade?
- Boa noite, senhorita! Optaste por teu pseudônimo favorito, Unafatal.
Hoje me batizei de Sadista porque não quero que me deduzam o gênero
tão facilmente.
Marquês de Sade e Unafatal se conhecem há cinco meses. Durante
todo esse tempo, viram-se apenas duas vezes, já que pessoalmente são
muito tímidos. Comunicam-se diariamente através da Internet, na
sala de bate-papo Noctâmbulos. São quase da mesma idade. Marquês,
o mais velho, tem dezenove anos.
- Como foi sua entediante aula noturna, caro cúmplice? As mesmas frases
decoradas de professores robotizados?
- Acertou, mas tenho uma novidade.
Eram assaz curiosos. Uma vez instigada a curiosidade, não descansavam
até saciá-la.
- Conte-me logo! Algum novo amor?
- Calma, honrosa dama! Não se trata do que estás pensando. Continuo
não acreditando em romances. Se fosse para eu estar apaixonado, seria
por ti! Tens preferências refinadas; és cética e bonita.
Minha Vênus! Bem sabes que não gosto de elogiar. Entretanto, é
impossível teclar para ti sem lisonjas. Já deves estar roendo
as unhas, não? Adoro sentir-te curiosa. Acreditas que sinto tua respiração
ofegante? Posso imaginar teus esféricos seios arfando. Que tortura, querida!
Por que o silêncio? Orgulho? Ficas ainda mais bela quando estás
aborrecida. Dorme, musa de néscios e cultos. Sonha, canta, brinca. Não
permitas que a novidade tire teu sono pueril! Sou um rapaz mau, já deverias
saber. Invento bobagens para te iludir. O mundo também é assim.
Quem não sabe? Acordaste? A novidade é que descobri tudo isso.
(Roberta Policarpo Barreto)
|