A Garganta da Serpente

Ricardo A de Lima

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Rubro

Cabelos vermelhos, como pôr de sol
Assim conheci
Menina presa
Em corpo feminino queimado de sol
Pele avermelhada
Não ardia
Ela dizia
Cheia de alegria
Nos amamos não sei quantas vezes
Durou não sei quantos anos
Ou foram alguns meses?
Vivíamos juntos
Em todo canto
Como siameses
Lhe disse eu te amo num dia
Ela já não ardia
De vermelho só sua bainha
De uma saia rodada
Então antes ardia
Ela confessou que mentia
Dei meu decreto: Perdoada
Mas o tempo continuou passando, cruel
E crescemos, adultos, eles dizem
Não nos aceitam, eu sei
Vermelho... agora nos olhos
Coisas brancas, verdes, pretas pela casa
E deixam os olhos avermelhados
Cansados
Picadas no braço
Amor...
Me dá um abraço?
Desprende esse laço?
Dor
Cansados
olhos avermelhados
Sai de casa numa manhã de primavera
Ela estava na janela
A moça na janela
Tão bela
Meu amor... ainda ali, mas já era
Vi janelas e as telhas da nossa casa
Tão vermelha
A moça e a telha
Amor... do fogo centelha
Dor... senhora tão velha
Cabelos vermelhos
Pele vermelha
Olhos vermelhos
Peito vermelho
Ontem a vi na praça central ao meio-dia
De vermelho só tinha os dedos
Nem beleza, virtude ou emoção
Nada havia
Só medos
Nem simpatia
Nem alegria
Acho que agora ardia
Pele vermelha
Mas não tão vermelha
Como os dedos sangrentos
Os olhos, qual sargento
Odiavam
Sem argumento
Tadinha, pensei
Fui embora, e olhei para trás na esquina
Um tiro, um grito
E lá estava ela, minha menina
Mais vermelha do que nunca
Sob o sol de dezembro
Agora sim sua pele
Ardia, vermelha.

(Ricardo A de Lima)


voltar última atualização: 01/12/2008
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