De noite, trazes para o quarto um tabuleiro com comidas,
deitas-te e fica a misturar-se com o teu corpo
um cheiro a roupa lavada.
Lês depois qualquer livro durante horas seguidas
e deixas guiar-te por um silêncio quase eterno
que é o das letras escritas em linhas sem fim,
estes símbolos foram inventados para que nos perdêssemos neles
e para ficarmos a conhecer os segredos de alguém,
aqueles que nem poderiam confessar senão às palavras.
Os ruídos lá fora são lentos,
quando chega um carro ouvem-se portas que batem
e algumas vozes que se confundem com a noite
e com os gestos sempre atrasados que trazes contigo.
Disseste que Deus estava qui ao pé,
pensavas talvez num modo de reconhecê-lo quando chegasse.
(Rezendes)
|