Soneto de Quarta-feira de Cinzas
Creio que amor é grave enfermidade
Aplacada só por pior doença.
E se existe remédio que o amor vença,
Este remédio será a vaidade.
Ministrei-me este mal da Eternidade:
O Ciúme. Reforçando-me a crença
Diz-me Ana: "Não quero tua presença,
Acabou-se a nossa cumplicidade".
Ainda ferido do amor desfeito,
Deu-me o remédio que talvez me cure:
"Eu não me apresso em dividir meu leito",
Disse com o ódio estampado no cenho.
"Saudades do teu corpo às vezes tenho,
Mas há de haver quem antes me procure".
(Régis Naquet)
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