A Garganta da Serpente

Radamés Manosso

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Moto contínuo

Neste momento ocorre em algum lugar
um intenso, louco, beijo na boca.
Também um impulso de desespero deve ocorrer.
Arrepios de desejo, infinita saudade,
choro, melancolia e tanta expectativa no ar.
Sinal que a vida transcorre
agora como sempre
em todo lugar.
A vida pulsa, freme, nesta noite de inverno,
mas inverno aqui na minha cidade.
Em outro lugar é pleno verão.
Esta minha insistência em proclamar a existência
de vida, forte e turbilhonante,
além da noite,
é apenas a necessidade de afirmar a esperança.
É preciso isto
para levar adiante o facho,
seguir mesmo no momento mais carente de luz,
pois até ali a vida circula
e se debate como um bicho acuado.
Em tudo a vida se multiplica
pois tudo quer viver, mesmo o que agoniza.
No silêncio da noite uma certeza:
é preciso querer a vida,
não importa que tudo te indique o contrário,
porque em São Paulo, Buenos Aires,
Tibete, Vladvostok a vida tremula.
E se te falta o pão, se te falta o amor,
se perdeste tudo,
saibas que ainda restas a ti mesmo.
Neste mundo não vale a pena
nenhuma forma de otimismo ingênuo.
Que adianta crer na facilidade das coisas,
na grande chance de tudo dar certo?
Mas crer na vida, se agarrar a ela ...
Se nesta hora não encontro o que procuro,
se me falta algo agora,
bem sei que sempre algo me falta,
que me resta pensar, senão,
que além da sala, dentro da noite,
uma fera sangrando se debate na rua.
Resiste, prossegue na luta.
Corre nas ruas de Nova York, Lyon, Xangai.
É a vida que continua.


(Radamés Manosso)


voltar última atualização: 09/03/2009
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