A Garganta da Serpente

Pedro Malta

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Elegia do medíocre

Vem Musa
Tocar-me ao de leve
Nem que seja por um segundo…
Pois sei que fugirás de seguida
Enojada com a pequenez
Dos meus devaneios
Que como foguetes
Sobem até a um baixo céu
Explodem
E deixam apenas
Um rasto de fumo e pólvora no ar.

Aqui
Na noite que inspira
Na noite que revela
Apenas vejo a evidência
De não conseguir soltar
Senão gritos ocos
Onde o eco dos grandes hinos por nascer
Se perde na mediocridade do meu ser.

Felizes aqueles que possuídos por ti
Ó Musa da agonia
Jorraram mundos de inesgotável angústia
Onde todos os demónios da dor universal
Se conjugaram nas linhas negras que deixaram!

Felizes aqueles que possuídos por ti
Ó Musa da febre
Foram espasmos da natureza
Histeria epiléptica do sentimento
Ditirambos compostos pelo próprio Baco
E cantaram embriagados em vermelho
A euforia e orgia da vida.

Felizes aqueles que possuídos por ti
Ó Musa da harmonia
Criaram cenários de puro equilíbrio
Onde todos os sentidos se exprimiram
Onde todos os elementos participaram
Naquelas linhas de azul
Que cristalizaram mundos para os absorver.

E felizes todos aqueles
Que cantaram o sonho…
As palavras…
O amor…
Porque dentro deles havia esplendor
Incêndios de chamas intermináveis
De sentidos e grandeza
Porque dentro deles estavas tu, Musa…

E isso justifica uma existência.

Aqui
No meu marasmo pessoal
Eu me confesso
A lua e todo o seu pesar
Revelam a aridez do meu deserto interior.

E lentamente…
A dor vai descendo
E vou sucumbindo
Ao bálsamo do sono e da desistência.


(Pedro Malta)


voltar última atualização: 01/03/2008
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