A Garganta da Serpente

Olho da Tempestade

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Meu castigo/Relâmpagos

Não podia te abandonar a ti mesma,
Eu te forcei a esse momento.
O exílio era inevitável.
Com olhos cerrados eu havia me fechado em carapaça.
Tive medo e insegurança,
Achei que não era digno

Percebia em cada detalhe do teu semblante,
Calmo e sereno uma vontade crescente de devorar-me.
Será que eu sou tão forte assim para cuidar de mim e dela?
Fizemos os mares arderem e inundamos continentes,
Eu te pergunto hoje se valeu a pena tamanhas desventuras?

Você diz que é a linha do meu rosto ou mesmo os incontáveis sinais das minhas costas,
Eu te digo que sou teus olhos iluminados pelo sol em um dia de verão.
Como me tornei uma sombra do que era,
Era você dominando meu ser.
Crescente aflição e desespero,
Quando eu deveria ter sido você.
Seria bem mais fácil assim,
Acabaria sendo eu que você diz,
Ser você em cada detalhe meu.

Deveria ser você no meu detalhe,
Tinha medo de amar meu amor.
Meu caráter ficou amedrontado,
O menino inocente correu dele mesmo.

Acabou correndo de você também,
Viu as trevas que o cercavam.
Chorou muitas noites por que esperava força,
Era fraco e não podia deter o avanço.

Coração negro e alma distorcida,
Trocou de nome e identidade.
Fez castelos de vaidade,
Sacrificou o amor em nome de um deus falso.
Virou um fanático suicida,
Percorreu caminhos de dor e sofrimento.

Do que ele tanto fugia?
Fugia com tanta determinação,
Para um exílio sem razão.
Quis ser um herói e tornou-se vilão,
Lutou por causa sem nobreza.
Executou planos sinistros,
Recriminou e subjugou a voz da sua alma.
Condenado a trilhar noites de desespero e incerteza,
Sem rumo ou lar carinhoso.
Perdeu-se no mundo de aparências,
Envenenou sua fonte de vida.
Envenenou sua alma e a dela,
Plantou a desconfiança e a incerteza.

Infeliz e amaldiçoado tens idéia do que fez?
Ninguém foge do próprio amor,
Ninguém foge da própria consciência.
Em desespero tentas tira a própria vida?
Olha para laminas afiadas com desejo.
Embriaga-se mais uma vez,
Consome venenos na esperança de uma morte lenta.

Desculpe lhe decepcionar,
Te encontro pela manhã com cortes.
O gosto amargo da covardia o toma por completo,
Sente na pele a dor mais intima do seu ser.
O amor mais uma vez marca tua alma,
Ferro e fogo.
Não escaparas de teu julgamento,
É dos homens o mais fraco e desprezível.
Teu castigo é justo e bem aplicado,
Melhor carrasco é aquela a quem amamos.

Fugir dos enlaces da intimidade é fugir da vida,
Terás seu castigo justo por tanto tempo ela quiser.
Ela por quem implora perdão e alento pode acabar com teu sofrer,
Em um instante apenas.
A questão é: Tu mereces isso?

Agora você julga-te inocente e injustiçado sim,
Implora perdão e penitencia.
Tua dor é teu ressentimento,
Teu flagelo é tua culpa.
Teu carrasco é tua amada,
Tua sentença é amar como nunca o fez.
Agora grita besta insana,
Só tem ruínas dos seus castelos e a doce voz do teu carrasco.
Era forte o bastante para machucar tua alma não era?
Agora seja forte para curar suas próprias feridas,
Ela não vira para lhe salvar.

Foste expulso e condenado à perambular sem o amor eterno,
Que tanto buscou.
Ela te abandonou com ódio nos olhos,
Castigo divino é a justiça feita aqui neste mundo de solidão.

Perdoa-me minha vida,
Perdoa-me minha alma.
Perdoa-me Deus,
Perdoa-me minha família.
Perdoa-me amigos,
Perdoai a si mesmo,
Perdoa-me minha amada.
Eu estraguei tudo.


(Olho da Tempestade)


voltar última atualização: 02/07/2008
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