NAVEGAR é preciso ... viver ?
Quantas vezes terei eu que traçar mapas
para cruzar os oceanos e suas escarpas ?
Quantas ondas terei que amansar ?
Quantas nuvens mais terei que soprar ?
Quantas velas enfunadas serão necessárias
e quantas rotas ainda reformuladas
para que em segurança percorra minha nau
em sua incessante busca pela costa oriental ?
E as paragens ? Quantas ainda verei eu
antes de recostar-me em porto definitivo ?
Quanto sal dobrará minha língua em sangue vivo
antes de narrar como foi que sobreviveu ?
No Cabo da Boa Esperança já vejo adiante
de Adamastor o mitológico rochedo gigante
que Lusíadas assombrou diz-nos certo canto
de Vênus aguardo intervenção sem pranto .
Em medida de poucos pés e apenas capitão
segue a nau solitária, sonhadora e ofegante
no aguardo especifico de melhor instante
para ancorar firme e forte em seco chão
(Olga Martins)
|