TARDE
Ainda hoje vagueia
O louco pela turba de luxúria,
Estendendo os dedos na barriga
Do anjo violado.
Na chama soturna,
Um caracol de osso rebenta
Como uma manhã fuzilada...
O anjo deitado no sonho
Da morte e do destino
Ignora o chamamento
De uns olhos castanhos
Muito abertos, sua cabeça
Imóvel eterna
apoia-se num espasmo
de excrementos.
Lentamente e muito baixo,
Um choro passa na sombra dos homens...
E o anjo louco procura em vão
Asas no cimo de dinamite.
(Nuno Vieira)
|