A Garganta da Serpente

Nilton Maia

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CONFISSÃO

Ando vazio de mim mesmo,
Embora ainda me comovam:
A música que soa,
A criança que passa,
A tarde que cai.

O acaso, decerto, me conduz.
Nau à deriva,
Nada sei de atracadouros:
Sou arrastado
Para o espesso fundo do que sou.

O cajado imaginário
Que carrego,
Não me dá rotas
Onde possa assentar
Meus frágeis passos.

Caminho
Pelas frestas do viver.
Oculto-me nas sombras do sentir.
Sou o exato espectro
Daquilo que me forma.

Deixei, um dia,
De crer em divindades.
Então, plantei em mim
A fé mais ampla e pura
Na espécie a que todos pertencemos.

Fiz-me de sonhos
E de um feixe de esperança.
Já não entendo
O exato senso
De tais substantivos.

Tenho uivado para a lua.
Faltam-me as presas,
E ela não me reconhece.
O lamento se perde
No infinito.


(Nilton Maia)


voltar última atualização: 08/02/2011
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