CONFISSÃO
Ando vazio de mim mesmo,
Embora ainda me comovam:
A música que soa,
A criança que passa,
A tarde que cai.
O acaso, decerto, me conduz.
Nau à deriva,
Nada sei de atracadouros:
Sou arrastado
Para o espesso fundo do que sou.
O cajado imaginário
Que carrego,
Não me dá rotas
Onde possa assentar
Meus frágeis passos.
Caminho
Pelas frestas do viver.
Oculto-me nas sombras do sentir.
Sou o exato espectro
Daquilo que me forma.
Deixei, um dia,
De crer em divindades.
Então, plantei em mim
A fé mais ampla e pura
Na espécie a que todos pertencemos.
Fiz-me de sonhos
E de um feixe de esperança.
Já não entendo
O exato senso
De tais substantivos.
Tenho uivado para a lua.
Faltam-me as presas,
E ela não me reconhece.
O lamento se perde
No infinito.
(Nilton Maia)
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