A Garganta da Serpente

Nietzsche

Friedrich Wilhelm Nietzsche
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No sul

Eis-me suspenso a um galho torto
E balançando aqui meu cansaço.
Sou convidado de um passarinho
E aqui repouso, onde está seu ninho.
Mas onde estou? Ai, longe, no espaço.

O mar, tão branco, dormindo absorto,
E ali, purpúrea, vai uma vela.
Penhasco, idílios, torres e cais,
Balir de ovelhas e figueirais.
Sul da inocência, me acolhe nela!

Só a passo e passo - é como estar morto,
O pé ante pé faz o alemão pesar.
Mandei o vento levar-me ao alto,
Aprendi com pássaros leveza e salto -
Ao sul voei, por sobre o mar.

Razão! Trabalho pesado e ingrato!
Que vai ao alvo e chega tão cedo!
No vôo aprendo o mal que me eiva -
Já sinto ânimo, e sangue e seiva
De nova vida e novo brinquedo...

Quem pensa a sós, de sábio eu trato,
Cantar a sós - já é para os parvos!
Estou cantando em vosso louvor:
Fazei um círculo e, ao meu redor,
Malvados pássaros, vinde sentar-vos !

Jovens, tão falsos, tão inconstantes,
Pareceis feitos bem para amantes
E em passatempos vos entreter ...
No norte amei - e confesso a custo -
Uma mulher, velha de dar susto:
"Verdade", o nome dessa mulher.


(Nietzsche)


voltar última atualização: 11/09/2005
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