A Garganta da Serpente

Nícolas Brandão

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Soldadinho de chumbo

E essa vontade que eu tinha de me arremessar contra o mundo?
Até que não houvesse mais eu, nem mundo.
E essa minha revolução tão minha?

Bater a cabeça contra o rumo das coisas
Concedeu-me este sono perene dos braços.

E os joelhos dobraram-se
As alegorias cansaram-se de significar.

Daqui pra frente porcos são porcos
E uma parte tão boa de mim deve dormir.

As revoluções, todas elas, moram agora na minha barriga
Nas minhas entranhas ancestrais.

No meu arquétipo guerreiro.
Nos meus soldados de chumbo.

Toda luta agora mora no meu sangue.
Toda dor nos meus nervos sãos.

A América Latina inscrita
nas nervuras das minhas mãos.

Os meus olhos viciados apontam para o óbvio.
Por isso escolho mantê-los fechados.

Meus ouvidos é que se arremessam,
incertos.

ao som sem som do universo.


(Nícolas Brandão)


voltar última atualização: 24/04/2008
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