A Garganta da Serpente

Nestor Lampros

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NO PRECIPÍCIO

Ainda maior que o céu,
estava lá frente a frente
comigo, sem coroas ou sóis:
escuridão de forma permanente.
Ao fundo na noite sem fim e sem estrelas
os cães ladravam com medo dos mortais.
Fiquei no chão e depositei meu corpo
no lodo açucarado de onde nasciam bambus,
no leito deste rio morto e esquecido.
Ele, gigantesco, me chamava, dava - me sua mão enorme
para me afogar de ajuda, sem cor ou vidas.
Para me encher de noite, a mão vazia, que sobrava
outra mão de morte com cheiro de nada.
Oferecia - me vida por instantes de luz,
que não se via na penumbra que eu via.
" Não", disse, "não", disse, " quero morrer antes
de me ver e me ater ao seu lado", por causa da sede,
do cansaço, da fome cruel que me destacava.
" Quero morrer e virar lodo sem saber concordar contigo- Escuridão!"
E Escuridão se tornou mais flauta
num som monótono de vaticínios,
num hino de escuridade, sem Deus.
E Lúcifer se foi;
ficou a paz
e o meu deserto se desfez.


(Nestor Lampros)


voltar última atualização: 07/06/2006
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