A Garganta da Serpente

Moilec Vailea

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Com os primeiros raios da alba, recebi o primeiro alento de vida, pelo nariz, e doeu tanto esse choque da minha alma com o meu corpo que as minhas primeiras palavras foram minhas lágrimas. Tive medo, quem não teria. Tinha esquecido como é viver materialmente que minhas pernas e braços pareciam que tinham vida própria e não obedeciam aos meus estímulos. O que recordo são esses insetos, que caminhavam pelo meu corpo, como comendo-me não só as vestimentas, senão também os trajes dos meus ossos. Creio que já não sentia dor, sentia uma leve cócega pelo corpo, eram cócegas de alegria pois estava alimentando a outros insetos iguais a mim. Quando fui um deles, a minha parte preferida eram os olhos. Gostava de comer a parte cega do olho, onde todas as recordações adquirem formas. Hoje, não estou para contos.


(Moilec Vailea)


voltar última atualização: 17/08/2009
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